16 agosto 2007

O tempo passa. Sinto as engrenagens colapsarem em cadeia com o apertar do mundo.

Não te podes deixar à solta para sempre, não podes. Há que escolher e assumir que tens de ter um saleiro, um país, uma profissão e um amor. Há que ser de um sítio e possuir coisas e pessoas. Há que crescer da liberdade para a responsabilidade.

Eu, que estou tão bem fugindo dessas prateleiras, não quero acreditar que tenha de usar uma coleira.

Mas é isso ou nada.

O nada, então. O nada. O meu nada é o tudo em potência, por isso bem maior do que a certeza de uma panela rota. Bem melhor.

Peso

O peso do inútil no meu peito
crescendo a cada gota de ar
que não deixa passar

O peso do inútil no meu peito

O peso no inútil do meu peito

O peso do inútil do meu peito

Gruta

O prazer da ausência do teu corpo como estalactite furando um fio de vida.

12 junho 2007

No n sense

A - Está? Fala de onde?
B - Daqui. Porquê?
A - Exacto...
B - Senhor, tenho mais que fazer...
A - Ouça, não me leve a mal. É que...
B - Sim?
A - Eu vi-o à pouco a passar com ela e ainda não percebi bem.
B - Quem fala?
A - Ela... ela alguma vez lhe falou de mim?
B - Não. Deveria?
A - Ela era tudo para mim. Só não lhe limpava o cu porque ela não queria.
B - Entendo.
A - E agora que eu já estava habituado, que eu já pensava "opá, se calhar morreu", vejo-os a passar de mão dada?
B - Tens lume?
A - Toma. Foi ela que me deu esse isqueiro. Nunca gostei muito destas mamas em relevo mas ela parecia achar que eu gostava e eu fiz o frete, como quando a tia nos dá umas meias no Natal.
B - Não é assim tão mau...
A - Ela nunca me deu a mão. Dizia que já tinha passado dos 10 anos. Ela agarra-ta com força? Aposto que é ela quem conduz...
B - Não... Ela aninha-se como um passarinho debaixo do meu braço.
A - As crianças iam gostar de a ver...
B - Crianças? Mas tu és um bocado novo para ter putos.
A - Não são meus, são dela.
B - Ela tem filhos?
A - Sim. Não são meus, ela já os tinha. E quando se foi embora deixou-os comigo.
B - Mas que idade têm eles?
A - 6 e 9.
B - São aqueles a brincar na poça ali à entrada do portão?
A - Sim.
B - Mas ela é nova. Como é que..?
A - Não sei. Quando a conheci ela já era uma mulher de 40 no corpo de uma menina.
B - Sim, porque gostosa ela é. Vê lá como ela me fode.
A - Parece querer dominar-te e ser dominada ao mesmo tempo. Já não me lembrava de como o corpo dela é bonito. Posso tocar?
B - Se ela não der por nada...
A - A pele dela é tão macia...
B - Imagina se estivesses a sentir isto.
A - Se calhar eu devia sair...
B - Não te preocupes, eu venho-me já.
(Vem-se)
B - Tens um lenço? Estou bocado constipado...
A - Não.
B - Que se lixe... Mas diz-me lá, como era ela contigo?
A - Era ela que me fodia, basicamente.
B - E tu?
A - E eu pedia-lhe para ela fazer pouco barulho por causa das crianças.
B - Tens foto?
A - Ñ. Tnh 1 vídeo mas é pesado d+ pa mandar.
B - Ñ a tou nada a ver a ser assim. Tens a certeza ké a mma pessoa?
A - O nick dela na é T4Truth?
B - Yah.
A - Então é ela.
B - Opá, mas ela nunca m falou d ti.
A - Será kela se lembra? S calhar tem amnésia ou assim...
B - Achas? Só s for amnésia conal. Vou ligar-lhe. Pera aí.
(Away - on the telephone)
B - Sim, olha, estás a ouvir? Precisava de falar contigo, podes vir ter comigo ao escritório? Ok. Avisa quando estiveres a vir para cá. Eu sei. Vá, txau, txau. Ela diz k nunca te viu mais gordo.
A - Também nunca deve ter visto os filhos dela. Opá, desculpa-me mas ela é uma puta.
B - Para mim é um café. Queres alguma coisa?
A - Um Sumol de laranja. Quem é que ela pensa que é?
B - (com voz de femme fatale) Penso que sou eu. Estou enganada?
A - Pela merda que andas a fazer deves andar. A menos que sejas uma puta do caralho que abandona os filhos e o irmão para poder grunhir enquanto fode.
B - (rindo) Tens razão, os gemidos dela poderiam ser um grunhido. Gooolo!
B - (com voz de femme fatale) Que eu saiba, eu fodo quem eu quiser!
B - Aquele Ronaldinho é o maior.
A - E quem te quiser a ti...
B - (com voz de femme fatale) As crianças estão bem?
A - Mais ou menos. Fizemos-te um funeral no quintal. Enterrámos as tuas roupas.
B - (com voz de femme fatale) Eu deixei lá roupas? Onde é que eu tinha a cabeça?
B - Mulheres...
A - Dói-me a cabeça.
B - Caro senhor, é deveras estranho que nos aborde desta forma no mínimo peculiar mas diga-me quanto é que quer que eu lhe dê para se ir embora e deixar a nossa família em paz?
A - Sinto-me insultado.
B - Ponha a mão na consciência. A sua irmã é uma senhora aqui na cidade. Uma senhora como há poucas. E calculo que, para além de ficar feliz com a felicidade dela, você devesse aspirar à felicidade própria. É dizer um valor.
A - Ultrajais-me ao insinuares que o objectivo desta visita à quinta onde o senhor e a minha irmã têm vivido longe dos olhos de Deus tem como objectivo exigir-vos o preço do meu silêncio. Errais, pois. Tudo o que desejo são umas últimas núpcias com ela.
B - Prefiro dar-vos todo o dinheiro do mundo.
A - Não percebeis, senhor, que me redimiria dos meus pecados se penetrasse pela milésima e última vez aquele ventre parido pelo mesmo ventre que eu e abundante do meu doce sangue. Porque tudo acaba como começa. E eu preciso de terminar o que iniciei já nem me lembro quando.
B - Pedires-me para foderes a minha mulher na minha cama é um pouco demais, mesmo para mim.
A - Dou-te o isqueiro.
B - Negócio fechado. E achas que eu poderia assistir?
A - Epá, só te estou a pedir um bocado de intimidade.
B - A cona dela é dela e ela deixa-se enfiar por quem quiser. Os meus olhos são meus e ninguém me vai proibir de andar na minha casa.
A - Eu vou ficar tímido.
B - Aposto que ela não vai. Pelo menos contigo.
A - Achas que ela aceita?
B - Mas tu estás a pensar perguntar-lhe?
A - Como hei-de fazer então? Não consigo colocar o protector nas costas.
B - Dá cá, eu espalho. Não sei, arranjavamos um estratagema...
A - Um estratagema...
B - Diz lá que eu não sei dar massagens...
A - Sim, mas devias guardá-las para ela.
B - E as tuas costas são tão másculas.
A - É do trabalho da fábrica. E qual é o plano? É melhor parares com isso que daqui a pouco passa aí o supervisionador e ainda vai pensar que eu...
B - Que tens umas costas bonitas. Deixa-me experimentar eu. O que é que eu tenho de fazer? Vá, dá cá o teu macaco.
A - Tens a certeza? Ok. Fica-te... pareces eu, com mais 10 anos e uma erecção.
B - Tens umas cuecas muito... brancas. És tu que as lavas?
A - Sim... Aquela pintura é muito bonita.
B - Gosto mais de esculturas. Mas eu se fosse a ti preocupava-me era com o facto de estares de cuecas no meio de uma galeria.
A - Eu? Quem disse isso? Eu estou vestido!
B - Queres enganar-me? Quem manda aqui sou eu.
A - Queres ver como não és? Olha a tua mulher a grunhir em cima de mim.
B - Sim, de facto se fosse eu a mandar ela estava a fazer-te um broche.
A - 1 2 3 4 5 6 7...
B - És mesmo engraçado. Não tens fodido nos últimos anos?
A - Como é que sabes?
B - Estás com medo de que isso acabe...
A - 14 15 16 17 18 19...
B - Oh meu granda cabraozinho, já chega. Larga a cadela da tua irmã. Se ela vê o caniche todo atiçado ainda tem uma coisinha má. Agora é que vais ver o que é bonito.
A - (com medo) O quê? Hey, o quê? Onde é que estás? Ó senhor! Psst! Está aí alguém?

04 junho 2007

Plágio

Não há verdade em nada do que escrevo. Não há só eu e nem mesmo eu. Através de mim escorrem as palavras de outros vergonhosamente. Através de mim. De mim.

Elevador do lixo

As palavras morreram e com elas tu. Não te enterrei. Teres um túmulo era existires ainda. Mandei-te pelo cano abaixo. Puxei o autoclismo dos beijos que demos e os beijos que ficamos por dar alimentam as histórias que hei-de contar. Agora tu percorres planícies brancas sem nada nos bolsos. Fiquei-te com tudo. Trouxe comigo até a tua dor dos dias vazios - dá-me jeito. Trouxe comigo tudo o que pude pilhar. Deixei-te somente a verdade branca de um ponto final.

29 maio 2007

VI

Estou condenada. Sei-o. Sei-o cada vez mais. Não vou ter aquilo que quero. Porque o que quero não se pode ter. Aliás, tê-lo anularia a própria existência do que desejo. Sinto profundamente a impossibilidade de alcançar essa utopia, esse amor maior do que eu e do que a minha vontade inata de possuir. Esse amor de liberdade e ar, esse amor eterno e justo, desmedido nas suas proporções e egoísta. Essa coisa em que se pode ser todo e receber o outro na totalidade, em que se pode estar acompanhado estando sozinho e sozinho estando acompanhado. Essa coisa com pontapés e murros na barriga, com verdade e com sentimentos grandiosos. Essa coisa outra. Aparte do que vejo neste mundo de pés amarrados à perna do quotidiano.

09 maio 2007

El cine

Um deserto. Um carro aproxima-se. Com ele a nuvem de fumo que levanta. Tu ao volante. Eu no lugar do pendura, feliz como uma criança. O sol entra pelas janelas abertas. O teu cabelo esvoaça. Olho para a areia. Ouço mal até os meus pensamentos. É Verão. Um Verão feliz daqueles em que a estrada parece levar-nos a qualquer lado que queiramos. Há uma felicidade seca no ar do deserto. A tua mão na minha perna dobrada debaixo do rabo. Vamos andar muito tempo assim.

Aula de cerâmica

Já sei tudo o que tens a dizer. Não precisas de abrir a boca. Não a abras. Tenho medo de que me dispas mais e mais. Tenho medo do poder que te dei. Da força do que atiro à parede e faço de conta que é só barro. Do sangue que vai enrolado ao barro. Tenho medo dos desenhos que fazes nas paredes com ele. Medo do que dizem. Do que simbolizam. E do que podem não simbolizar.
Por que raio não me pus a fazer vasos com o barro, porque fui inventar de o atirar à parede contigo? Porque o atiro contigo e te deixo ver como ele cai? Porque faço isto sem pensar, sem querer saber se sinto ou não sinto, se questiono as tuas pernas no sítio errado ou as mãos de certo modo.

Camaleon

O teu beijo mudou, deixou nas ruas as bicicletas partidas e ganhou-me. Deixou nas ruas o não ser meu e agora é. Deixou nas ruas o eu não o querer e montou-se em estátuas deliciosas. O teu beijo de montanha a montanha devorador, devastador, demolidor, desesperado. O teu beijo que era uma cidade em ruínas, o teu beijo de Feira-Popular, o teu beijo de trazer atrás da orelha deixou-me a mim, senhora da Alfândega, lá, no sítio onde os livros dos mistérios andam para ser escritos. O teu beijo mudou-se, mudou-me. O teu beijo porta-aviões B7 água afundou-me e eu não posso ligar a ninguém a dizer que o submarino foi ao fundo.

Carne

Sabe-te a quê a carne que foi tua? Sabe-te a alguma coisa esta carne que já foi tua? Esta carne que contaminas com a tua descrença no amor, esse Deus dos ricos. Quem come os restos, as sobras, as sombras do que fomos? Quem trazes tu na algibeira para te lamber as feridas à noite? Quem levou os sacos de souvenirs para o lixo? Quem deitou pelo ralo as minhas lágrimas, o meu suor, o teu sabor? Quem partiu a loiça chinesa do aparador, quem amolgou os tachos? Quem desentrelaçou os meus dedos dos teus, foste tu? Quem devolveu a minha almofada à minha cabeça? Quem me abandonou? Quem me perdeu? Quem perdi eu?
Deito fora os dias para não ter de passar pela tua ausência neles. Deito fora os dias, fico de fora do calendário, para não ter de não te ver neles.
Sabe-te a quê esse espaço só teu? Esse tu só teu? Sabe-te a quê essa carne crua, essa carne só tua, essa carne nua, essa carne fria, irrespirável, inenarrável?

Dança

Eu sei e tu sabes. Olhamo-nos com a curiosidade de quem se reconhece nas curvas do outro. Investigamo-nos de lupa em riste, o olhar atento nos detalhes, a cabeça inclinada para a frente, a lista dos requisitos bem clara na cabeça. Certo. Errado. Rodamos sobre nós mesmos, alternando os lugares que ocupamos intermitentemente. Confundimo-nos e fundimo-nos nesse segundo em que uma imagem ainda não deu lugar a outra e ambas coexistem no mesmo espaço e deleitamo-nos com a hipótese disso. Eu sei e tu sabes que a mais ninguém interessa a fragilidade deste laço, só a ti, só a mim. Está para ser inventado o porquê. Talvez um dia.

Confessionário

Danço para fingir que esqueço que não estás aqui. Esqueço pouco e finjo mal. A tua ausência é a tua presença em mim; a dor um quentinho, um conforto.

08 janeiro 2007

Sábado à tarde

A minha mãe também já foi nova. Já teve nela todos os sonhos do mundo, já quis ser coisas, já quis viver. E quando ela chorava, chorava porque os estava a deixar para trás. Pelo amor. O amor. A mediocridade é mais terrível quando não nos foi imposta. Quando fomos nós que a abraçamos iludidos.
Sábado à tarde. Dia de limpezas. Dói-me a barriga.
- Diz à tua avó que isto foste tu que fizeste quando eu te vestia as collants. Foi uma joelhada tua.
E o Rui Veloso a chorar Porto Côvo na aparelhagem, eu e a minha irmã a discutir, a minha mãe a ir-se embora e a voltar. Eu tinha de segurar as pontas. Mas não tenho força. As pontas fogem-me. Não consigo agarrá-las. Mãe, eu estou a tentar. Gostava de não me lembrar. Ou gostava de me esquecer. Um salto. Hirta na cama espero um som de confirmação. Ouço. Corro. Atravesso. Chego. Não posso fazer nada. Não sei dormir na minha casa. Acho que nunca soube.

Ele saiu sem dizer nada,
Talvez fosse ao teatro chino.
Vai regressar de madrugada
E acordá-la cheio de vinho.
Tantos anos, tantas noites
Sem nunca sentir a paixão.
Foram já as bodas de prata,
Comemoradas em solidão.

28 setembro 2006

Os homens vão passando na minha vida e ficando na minha parede, nos lençóis, nas peças que encaixaram no meu eterno puzzle. O tempo é uma coisa traiçoeira. Tenho uma história, que é a minha, mas que são muitas histórias e talvez nenhumas. Nem uma. Que necessidade de ser e ser bem. Olho a minha parede cheia de coisas a dizer e, ao mesmo tempo, parece dizer de mais. E tão pouco. Bonita e finda, a vida que vivi, a que ainda não vivi e a que nunca viverei angustiam-me. Com que então é só isto! Só uma vida. Uma história que alguns contarão mas que cedo se desvanecerá. O tempo só não corrói até à erosão os nomes demasiado grandes.

09 setembro 2006

Paris

Paris é o carrossel em Montmartre,
é a engrenagem de uma bicicleta,
é um crêpe azul e vermelho
a ranger quando o piso,
são as luzes néon
do McDonalds,
são todos os olhares despudorados
menos o teu.
Paris são corpos ao sol
e pyramides antinaturais,
são dois pescoços atirados ao céu,
são as tuas mãos que não alcanço.
Paris é um monumento
caro
e que só pode ser visto por
uma pessoa de cada vez.
Paris tem olhos em bico
sapatos feios
e chora todo o ano -
- mas sempre à la mode.

Paris é Lisboa,
uma Lisboa a direito e maior
onde tu não estás.
Merci. Pardon.

XXII

Um dia eu chego a casa e digo-te: "Já não vale a pena". Tu pegas na mala que já estava feita porque nunca se sabe e bates com a porta. E eu fico ali, a respirar um ar que é só meu. Não sei para onde foste nem tão pouco quero saber. Eu só pertenço a mim mesma - é esta a sensação. É um espasmo de consciência de que o meu ser não se prolonga até ti, nem em ti se anula, nem te deve nada - nem mesmo uma explicação. Estou mais leve, tenho menos os teus 60 quilos às costas e consigo ver a beleza da possibilidade nas coisas, como se cortar o nosso laço empurrasse todo o mundo à minha volta e fizesse as engrenagens e roldanas da vida trabalhar.
Neste espasmo de hipótese cabe todo o mundo. Cabe todo o mundo onde tu cabias. Mas não tarda o espasmo esvai-se e eu vou voltar a ver que no teu lugar só caberá solidão e arrependimento.

Laboratório Emocional

somos duas bolas
somos quase uma bola
somos a bola
somos uma bola com outra bola
somos uma bola e outra bola
somos ou uma bola ou outra bola
somos só mais uma bola
somos fotografias de duas bolas
a arder no caixote público
de uma cidade anoitecida.

O quadrado

O Cesariny só não andou com o Pessoa porque não calhou.
- Isso e o ele ter a pila pequena, corrige-me aquele.

A Vieira da Silva

Destino são duas linhas aqui
e ali já não.

Um mentiroso

Não tenho coração,
tenho um monte de cotão
refugiado de zonas mais a sul
deste país perturbado.

Quem diz que sente mente
Tu
dizes mentiras das boas
daquelas de fazer dizer
que se conhece um sítio
aonde os carros não vão
daquelas de perguntar
se queres vir comigo
e esconder o prazo de validade
daquelas de lençóis azuis
e carro azul e olhos
que até quase parecem sentir
daquelas caiadas a verniz das unhas
por autocarros a correr
daquelas que pingam
e rolam por mim abaixo
viscerais
totais
daquelas que nunca poderei escrever
ou sequer dizer

A foda

Deixa-me ter o teu corpo
Mas não olhes para mim
Que eu tenho lençóis em vez de olhos
Lençóis azul cueca
E lençóis de àgua
Intermitentemente
Deixa-me o teu corpo e vai-te embora
Para que eu não possa sentir-te a saber-me

Ninguém sabe quem eu sou.

Ouço os vizinhos a rebolar pela casa
E dentro de mim os violinos abafam o seu amor
O amor não existe
Só os seus ecos,
Que rastejam pelas paredes até mim.
O amor não existe
Pois não?
Desculpa.

Não tenho um coração, tenho um ego.
Tenho uma mão gigante
Maior do que todo o mundo
Que nela cabe
E casinhas pinipons perfeitas
E barbies sentadas em caixas de cartão

E dor

Dor

D o r

Se tens medo eu estou aqui

Aonde? Quem é que acredita nisso?

Uma vida é fazê-la, não é dizer.
Diz-me que gostas de mim para que eu me possa rir de ti.
Diz!

Mas faz de conta que eu não te disse nada.
Queres broche ou foda?

O manipulador de emoções

Tu tens telas de cinema
em vez de olhos
e não pedes desculpa a ninguém
pelos cabos analógicos
que arrastas
e te ligam
ao meu coração.